Blog do Professor Davi
sábado, 6 de maio de 2017
terça-feira, 19 de abril de 2016
sábado, 19 de março de 2016
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
segunda-feira, 15 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Experimento com a Erosão do Solo
O experimento é destinado aos alunos de ciências do ensino fundamental.
Introdução
A erosão é um processo de deslocamento de terra
ou de rochas de uma superfície. A erosão pode ocorrer por ação de fenômenos da
natureza ou do ser humano.
Causas naturais
No que se
refere às ações da natureza, podemos citar as chuvas como principal causadora
da erosão. Ao atingir o solo, em grande quantidade, provoca deslizamentos,
infiltrações e mudanças na consistência do terreno. Desta forma, provoca o
deslocamento de terra. O vento e a mudança de temperatura também são causadores
importantes da erosão.
Quando um vulcão entra em erupção quase sempre ocorre um processo de erosão, pois a quantidade de terra e rochas deslocadas é grande.
A mudança na composição química do solo também pode provocar a erosão.
Quando um vulcão entra em erupção quase sempre ocorre um processo de erosão, pois a quantidade de terra e rochas deslocadas é grande.
A mudança na composição química do solo também pode provocar a erosão.
Causas humanas
O ser humano pode ser um importante agente
provocador das erosões. Ao retirar a cobertura vegetal de um solo, este perde
sua consistência, pois a água, que antes era absorvida pelas raízes das
árvores e plantas, passa a infiltrar no solo. Esta infiltração pode causar a
instabilidade do solo e a erosão.
Atividades
de mineração, de forma desordenada, também podem provocar erosão. Ao retirar
uma grande quantidade de terra de uma jazida de minério, os solos próximos
podem perder sua estrutura de sustentação.
Prejuízos ao ser humano
A erosão
tem provocado vários problemas para o ser humano. Constantemente, ocorrem
deslizamentos de terra em regiões habitadas, principalmente em regiões
carentes, provocando o soterramento de casas e mortes de pessoas. Os prejuízos
econômicos também são significativos, pois é comum as erosões provocarem
fechamento de rodovias, ferrovias e outras vias de transporte.
Formas de evitar
· Não retirar coberturas vegetais de solos,
principalmente de regiões montanhosas;
· Planejar qualquer tipo de construção (rodovias, prédios, hidrelétricas, túneis, etc) para que não ocorra, no momento ou futuramente, o deslocamento de terra;
· Monitorar as mudanças que ocorrem no solo;
· Realizar o reflorestamento de áreas devastadas, principalmente em regiões de encosta.
fonte: http://www.suapesquisa.com/geografia/erosao.htm
domingo, 10 de maio de 2015
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
terça-feira, 23 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
terça-feira, 16 de setembro de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
quarta-feira, 5 de junho de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
Surgimento da televisão
O aparecimento da televisão
deve-se a grandes matemáticos e físicos, pertencentes às ciências exatas que entregaram
para as ciências humanas um grande e poderoso veículo. Desde o início do século
XIX, os cientistas estavam preocupados com a transmissão de imagens à distância
e foi com invento de Alexander Bain, em 1842, que se obteve a transmissão
telegráfica de uma imagem (fac-símile), atualmente conhecido como fax. Em 1817,
o químico sueco Jons Jacob Berzelius descobriu o selênio, mas só 56 anos
depois, em 1873, que o inglês Willoughby Smith comprovou que o selênio possuía
a propriedade de transformar energia luminosa em energia elétrica. Através
desta descoberta pode-se formular a transmissão de imagens por meio da corrente
elétrica.

Em 1892, Julius Elster e Hans
Getiel inventaram a célula fotoelétrica sinal elétrico. Em que transformou cada
subdivisão em 1906, Arbwehnelt desenvolveu um sistema de televisão por raios
catódicos, sendo que o mesmo ocorreria na Rússia por Boris Rosing. O sistema
empregava a exploração mecânica de espelho somada ao tubo de raios catódicos.
Em 1920, realizaram-se as verdadeiras transmissões, graças ao inglês John Logie
Baird, através do sistema mecânico baseado no invento de Nipkow. Quatro anos
depois, em 1924, Baird transmitiu contornos de objetos à distância e no ano
seguinte, fisionomias de pessoas. Já em 1926, Baird fez a primeira demonstração
no Royal Institution em Londres para a comunidade científica e logo após
assinou contrato com a BBC para transmissões experimentais. O padrão de
definição possuía 30 linhas e era mecânico.
Nesse período, em 1923, o
russo Wladimir Zworykin descobriu o iconoscópio, invento que utilizava tubos de
raios catódicos. Em 1927, também Philo Farnsworth descobriu um sistema
dissecador de imagens por raios catódicos, mas com nível de resolução não
satisfatório. Zworykin foi convidado pela RCA a encabeçar a equipe que
produziria o primeiro tubo de televisão, chamado orticon, que passou a ser
produzido em escala industrial a partir de 1945. Em Março de 1935,
emite-se oficialmente a televisão na Alemanha, e em Novembro na França, sendo a
Torre Eiffel o posto emissor. Em 1936, Londres utiliza imagens com
definição de 405 linhas e inaugura-se a estação regular da BBC. No ano
seguinte, três câmaras eletrônicas transmitem a cerimônia da Coroação de Jorge
VI, com cerca de cinquenta mil telespectadores. Na Rússia, a televisão começa a funcionar em
1938 e nos Estudos Unidos, em 1939. Durante a Segunda Guerra Mundial, a
Alemanha foi o único país europeu que a manter a televisão no ar.
Paris voltou com as
transmissões em Outubro de 1944, Moscou em Dezembro de 1945 e a BBC em Junho de
1946, com a transmissão do desfile da vitória. Em 1950, a França possuía uma
emissora com definição de 819 linhas, a Inglaterra com 405 linhas, os russos
com 625 linhas e Estados Unidos e Japão com 525 linhas. Em Setembro desse mesmo
ano, inaugura-se a TV Tupi de São Paulo, pertencente ao jornalista Assis
Chateaubriand, dono dos Diários Associados, com sistema baseado no americano. Em
resumo pode-se dizer que a câmara de TV capta as imagens, decompondo-as em
sinais elétricos que são mandados para um centro eletrônico, o modelador (aparelho
que modula as ondas em um oscilador). Os sinais são enviados em forma de ondas
por uma grande antena transmissora que é encaminhada ao aparelho receptor que
desfaz os sinais, recompondo-os na sua posição original, reproduzindo na tela a
imagem transmitida.
A formação da imagem é
instantânea. O dispositivo eletrônico utiliza-se de pontinhos, ao invés de
linhas, conseguindo desenhar o frame (imagem) inteiro a cada 1/25 de segundo.
Para transmitir a imagem de um lugar para o outro utilizou-se antenas, mas como
mas como as ondas são em linha reta ficou difícil transmitir para o outro lado
do globo terrestre, devido à curvatura, procurando deste modo uma solução
espacial. Em 23 de Julho de 1962, a primeira transmissão via satélite, o
satélite artificial Telstar, lançado pela NASA dos E.U.A.
O progresso da engenharia espacial e das
telecomunicações permitiu lançar satélites em órbita à volta da Terra. São eles
que garantem as transmissões televisivas e as comunicações telefônicas
intercontinentais que permitem comunicar um mesmo sinal em todo o mundo ao
mesmo tempo.
Início das transmissões em cores
As transmissões regulares a cores nos E.U.A.,
começaram em 1954. Mas já em 1929, Hebert Eugene Ives realizou, em Nova Iorque,
as primeiras imagens coloridas com 50 linhas de definição por fio, cerca de 18
frames por segundo. Peter Goldmark aperfeiçoou o invento mecânico fazendo
demonstrações com 343 linhas, a 20 frames por segundo, em 1940.
Vários sistemas foram criados, mas todos iam de
encontro a uma forte barreira: se um sistema novo surgisse, o que fazer com os
aparelhos antigos a preto e branco que já eram cerca de 10 milhões no início
dos anos 50? Criou-se nos Estados Unidos um comitê especial para, no sentido
literal, colocar cor no sistema preto e branco. Esse comitê recebeu o nome de
National Television System Committee (também conhecido como National Television
Standards Committee), cujas iniciais serviam para dar nome ao novo sistema,
NTSC. O sistema desenvolvido baseava-se em utilizar o padrão a preto e branco
que trabalhava com níveis de luminância (Y) e acrescentaram a cronomância (C),
ou seja, a cor. O princípio de captar e receber as imagens em cores está na
decomposição da luz branca em três cores primárias que são o vermelho (R de
red), o verde (G de green) e o azul (B de blue). Numa proporção de níveis de
30% de R, 59% de G e 11% de B. Na recepção o processo é inverso, a imagem
compõem-se através das somatórias das cores de pixel, ou seja, nos pontos da
tela do televisor. Em 1967, entra em funcionalidade, na Alemanha, uma variação
do sistema americano, resolvendo algumas debilidades desse sistema que recebeu
o nome de Phase Alternation Line, dando as iniciais para o sistema PAL.
Nesse mesmo ano, entrou na França o SECAM
(Séquentille Coleur à Memoire), mas não compatível com o sistema a preto e
branco francês.
A primeira transmissão oficial
a cores no Brasil deu-se em 31 de Março de 1972. O desenvolvimento da TV foi
tão grande que os canais disponíveis de VHF (Very High Frequency, isto é, frequência
bastante alta) ficaram saturados, ampliando assim a utilização da faixa de UHF
(Ultra High Frequency, isto é, frequência ultra-alta). Assim os fabricantes de
televisores foram obrigados a construir um aparelho capaz de captar todos os
canais para que os programas da faixa em
que era feita através do sinal UHF ficassem acessíveis.
A transmissão de um programa ao vivo exige a participação de uma equipe numerosa e altamente qualificada que se pode dividir em quatro grupos: pessoal da cena, controle de cor e iluminação, controle de som e direção. Todos figuram nesse esquema de um estúdio atual.
A transmissão de um programa ao vivo exige a participação de uma equipe numerosa e altamente qualificada que se pode dividir em quatro grupos: pessoal da cena, controle de cor e iluminação, controle de som e direção. Todos figuram nesse esquema de um estúdio atual.
A Descoberta da Radioatividade
Introdução
Quase todos já ouviram falar sobre a descoberta
da radioatividade, que é um fenômeno pelo qual os núcleos atômicos sofrem
transformações e emitem radiações, podendo, nesse processo, formar novos
elementos químicos. Costuma-se dizer que esse fenômeno foi descoberto,
acidentalmente, por Henri Becquerel, em 1896. Tudo aconteceu porque Becquerel
guardou, em uma gaveta, um composto de urânio juntamente com uma chapa
fotográfica, havendo depois revelado a chapa e notado nela os sinais da
radiação.
Adicionar legenda |
Este capítulo mostrará qual foi o trabalho de
Becquerel, o longo e tortuoso caminho que levou à descoberta da radioatividade
e discutirá as dificuldades de compreensão dos fatos que eram observados. Esse
episódio é muito instrutivo, por mostrar claramente como as expectativas
teóricas podem influenciar as próprias observações, levando o pesquisador a ver
coisas que não existem.
A radiação dos corpos luminescentes
A descoberta dos raios X suscitou quase
instantaneamente um grande número de trabalhos na Academia de Ciências de
Paris, e foi a principal motivação para o trabalho inicial de Becquerel. Nesse
sentido, destaca-se, em particular, a hipótese levantada por Poincaré, de que
havia uma relação entre a emissão dos raios X e a fluorescência do vidro de que
era feito o tubo de raios X. Nas suas próprias palavras:
"É, portanto, o vidro que emite os raios
Roentgen, e ele os emite tornando-se fluorescente. Podemos nos perguntar se
todos os corpos cuja fluorescência seja suficientemente intensa não emitiriam,
além de raios luminosos, os raios X de Roentgen, qualquer que seja a causa de
sua fluorescência. Os fenômenos não seriam então associados a uma causa
elétrica. Isso não é muito provável, mas é possível e, sem dúvida, fácil de
verificar".
É a busca dessa relação entre fluorescência e
raios X que irá levar aos estudos de Becquerel. Na verdade, de acordo com os
nossos conhecimentos atuais, não existe relação direta entre a emissão de raios
X e a luminescência. Mas é graças a essa pista falsa que muitas descobertas
serão feitas.
Vários trabalhos relacionados com a descoberta de
Roentgen foram apresentados na Academia nas primeiras sessões de 1896. Na
sessão de 03/02/1896, Nodon informa que um arco voltaico não produz raios X,
mas Moreau comunica que eles são emitidos pela descarga de alta voltagem de uma
bobina de indução, sem a utilização de um tubo de vácuo e, portanto, sem raios
catódicos. Benoist e Hurmuzescu observam que os raios X são capazes de
descarregar um eletroscópio. Na outra semana (10/02/1896) aparece o primeiro
trabalho destinado a testar a sugestão de Poincaré.
Nessa sessão, Poincaré apresenta à Academia um
trabalho de Charles Henry. Ele testa inicialmente se o sulfeto de zinco
fosforescente é capaz de aumentar o efeito dos raios X e conclui que sim: se um
objeto metálico é parcialmente recoberto com uma camada de sulfeto de zinco, a
radiografia desse objeto fica mais forte e nítida na região recoberta do que na
região sem sulfeto de zinco. Ainda mais: utilizando a luz produzida pela queima
de uma fita de magnésio, em laboratório, Henry afirma ter conseguido obter
efeitos iguais aos de uma radiografia, bastando recobrir o objeto com uma
camada de sulfeto de zinco. A hipótese de Poincaré parecia estar confirmada.
Na semana seguinte (17/02/1896), entre a já usual
profusão de estudos sobre os raios X, surge um trabalho de Niewenglowski que
confirma e amplia os resultados de Henry. Ele utiliza outro material
fosforescente - o sulfeto de cálcio. Eis sua descrição:
"Tendo envolvido uma folha de papel
sensível ordinário (papel fotográfico) com diversas camadas de papel agulha
negro ou vermelho, coloquei acima dela duas moedas e recobri uma das metades
(da folha) com uma placa de vidro com pó fosforescente (sulfeto de cálcio). Depois
de quatro ou cinco horas de exposição ao Sol, a metade do papel sensível que
havia recebido diretamente as radiações solares havia permanecido intacta e não
apresentava nenhum sinal da moeda colocada acima dela, indicando assim que o
papel negro ou vermelho não havia sido atravessado pela luz. A metade que só
recebia os raios solares através da placa fosforescente estava completamente
enegrecida, exceto pela porção correspondente a uma das moedas, da qual foi
produzida uma silhueta branca sobre (um fundo) negro.
Colocando apenas uma camada de papel vermelho
fino, permitindo a passagem dos raios solares, constatei que a porção do papel
sensível que só recebia as radiações solares após sua passagem pela camada
fosforescente enegrecia muito mais rapidamente do que a outra".
As observações de Niewenglowski corroboravam as
de Charles Henry: os materiais fosforescentes pareciam emitir raios X, quando
iluminados. Ainda mais: Niewenglowski estuda o efeito da fosforescência do
sulfeto de cálcio colocado em um local escuro, depois de ter recebido a luz do
Sol, concluindo que também nesse caso o material continuava a emitir radiações
capazes de atravessar o papel negro:
"Pude também observar que a luz emitida
pelo pó fosforescente, previamente iluminado pelo Sol, na obscuridade, era
capaz de atravessar várias camadas de papel vermelho e obscurecer um papel
sensível que dele estava separado por essas camadas de papel".
Passa-se mais uma semana. Na sessão de
24/02/1896, Piltchikof anuncia que, utilizando uma substância fortememente
fluorescente dentro do tubo de Crookes, no local onde os raios catódicos
atingem a parede de vidro, observou um grande aumento da intensidade dos raios
X, permitindo a realização de radiografias em 30 segundos (anteriormente, eram
necessários vários minutos). A sugestão de Poincaré já estava, portanto,
resultando em importantes aplicações técnicas. Todos esses resultados
espantarão a qualquer físico moderno. Não se conhece, atualmente, nenhum efeito
semelhante a esse descrito por tais autores. As experiências não deveriam ter
proporcionado os resultados observados. O que aconteceu? Não se sabe.
Nessa mesma sessão da Academia, aparece o
primeiro trabalho de Henri Becquerel sobre o assunto.
A contribuição de Henri Becquerel
Henri Becquerel pertencia a uma ilustre família
de cientistas. Seu avô, Antoine Becquerel, nascido em 1788, foi um importante
investigador dos fenômenos elétricos e magnéticos, tendo publicado um grande
tratado sobre o assunto. O pai de Henri, Edmond Becquerel (1821-1891), notabilizou-se
por seus estudos a respeito das radiações ultravioleta e dos fenômenos de
fosforescência e fluorescência. Especialmente de 1859 a 1861, estudara os
sulfetos de cálcio, de bário, de estrôncio e outros. Entre os materiais que
estudou estavam incluídos alguns sais de urânio.
No laboratório de seu pai, Henri Becquerel
desenvolveu seu treino cientifico e realizou suas primeiras pesquisas - quase
todas sobre óptica e muitas delas, no período de 1882 a 1897, sobre
fosforescência. Entre outras coisas, estudou a fosforescência invisível (no
infravermelho) de várias substâncias. Estudou, em particular, os espectros de
fluorescência de sais de urânio, utilizando amostras que seu pai havia
acumulado ao longo dos anos.
Nada era mais natural do que o interesse de Henri
Becquerel pelos raios X e, mais particularmente, pela conjectura de Poincaré e
pelos trabalhos de Henry e Niewenglowski. De fato: parecia simplesmente que,
além de poderem emitir radiação visível e infravermelha, os corpos
luminescentes podiam também emitir raios X. Becquerel resolve fazer
experimentos sobre o assunto. Reproduziremos, abaixo, o texto completo da
primeira nota de Henri sobre o assunto, apresentada à Academia no dia
24/02/1896 (dois meses após a divulgação da descoberta dos raios X):
"Em uma reunião precedente [da
Academia de Ciências Francesa], Charles Henry notificou que, ao se colocar
sulfeto de zinco fosforescente no caminho dos raios que saem de um tubo de
Crookes, aumentava a intensidade das radiações que penetram o alumínio.
Além disso, Niewenglowski descobriu que o
sulfeto de cálcio fosforescente, comercial, emite radiações que penetram em
substâncias opacas.
Esse comportamento se estende a várias
substâncias fosforescentes e, em particular, aos sais de urânio, cuja fosforescência
tem uma duração muito curta.
Com o sulfato duplo de urânio e potássio, de
que possuo alguns cristais sob a forma de uma crosta transparente, fina,
realizei a seguinte experiência:
Envolve-se uma chapa fotográfica de Lumiére
em duas folhas de papel negro muito espesso, de tal forma que a chapa não se
escureça mesmo exposta ao Sol durante um dia. Coloca-se uma placa da substância
fosforescente sobre o papel, do lado de fora, e o conjunto é exposto ao Sol
durante várias horas. Quando se revela a chapa fotográfica, surge a silhueta da
substância fosforescente, que aparece negra no negativo. Se for colocada uma
moeda ou uma chapa metálica perfurada, entre a substância fosforescente e o
papel, a imagem desses objetos poderá ser vista no negativo.
As mesmas experiências podem ser repetidas
colocando-se uma chapa fina de vidro entre a substância fosforescente e o
papel; e isso exclui a possibilidade de qualquer ação química por vapores que
pudessem sair da substância ao ser aquecida pelos raios do Sol. Pode-se
concluir dessas experiências que a substância fosforescente em questão emite
radiações que penetram um papel opaco à luz e reduzem sais de prata [sensibilizam
o papel fotográfico]".
Note-se que Becquerel conhece os trabalhos
anteriores de Henry e Niewenglowski e que reproduz, sem grande alteração, o
experimento do segundo. Apenas testou uma nova substância - o sulfato duplo de
uranila e potássio - confirmando, também nesse caso, a hipótese de Poincaré.
Na semana seguinte (02/03/1896), d’Arsonval descreve
ter obtido radiografias utilizando uma lâmpada fluorescente e recobrindo os
objetos a serem radiografados com um vidro fluorescente contendo um sal de
urânio. Conclui nesse artigo que todos os corpos que emitem radiações
fluorescentes amarelo-esverdeadas são capazes de impressionar chapas
fotográficas recobertas por papel opaco à luz.
É nessa mesma sessão da Academia que Becquerel
apresenta uma segunda nota, que é comumente descrita como representando a
descoberta da radioatividade. Cortés Pla é um dos que comete esse erro, apesar
de haver lido (e traduzido) os artigos de Becquerel: "Uma semana
depois, no dia 2 de março, a Academia escuta o resultado de novas investigações
que imortalizariam o nome de Becquerel, já que nelas se descreve a existência
de um novo fenômeno: a radioatividade..." [ref. 6, p. 32].
Nessa segunda nota, Becquerel prossegue o estudo
dos efeitos produzidos pelo sulfato duplo de uranila e potássio. Varia o
experimento anterior, observando que as radiações emitidas por esse material
são menos penetrantes do que os raios X comuns. Nota também que a emissão da
radiação penetrante ocorre tanto no caso em que o material fosforescente é
iluminado diretamente pelo Sol quanto ao ser iluminado por luz refletida ou
refratada. Observa também que, mesmo no escuro, o material estudado sensibiliza
chapas fotográficas (como o sulfeto de cálcio de Niewenglowski). Eis a
transcrição dessa parte do artigo:
"Insistirei particularmente sobre o
seguinte fato, que me parece muito importante e alheio ao domínio dos fenômenos
que se poderia esperar observar. As mesmas lamelas cristalinas, colocadas junto
a chapas fotográficas, nas mesmas condições, isoladas pelos mesmos anteparos,
mas sem receber excitação por incidência de radiação e mantidas na obscuridade,
ainda produzem as mesmas impressões fotográficas. Eis de que maneira fui levado
a fazer essa observação: dentre as experiências precedentes, algumas foram
preparadas na quarta-feira, 26, e na quinta-feira, 27 de fevereiro; e como,
nesses dias, o Sol apareceu apenas de modo intermitente, conservei as
experiências que havia preparado e coloquei as placas com seus envoltórios na
obscuridade de uma gaveta de um móvel, deixando as lâminas do sal de urânio em
seu lugar. Como o Sol não apareceu de novo nos dias seguintes, revelei as
placas fotográficas a 1o de março, esperando encontrar imagens muito
fracas. Ao contrário, as silhuetas apareceram com grande intensidade. Pensei
logo que a ação devia ter continuado na obscuridade e preparei a experiência
seguinte:
No fundo de uma caixa de cartão opaco
coloquei uma placa fotográfica; depois, sobre o lado sensível, coloquei uma
lamela de sal de urânio, lamela convexa [com a parte central mais alta] e
que tocava a gelatina apenas em poucos pontos; então, ao lado, na mesma placa,
coloquei outra lâmina do mesmo sal, separada da gelatina por uma fina lâmina de
vidro. Após realizar essa operação, na sala escura, a caixa foi fechada, então
colocada dentro de outra caixa de papelão e por fim dentro de uma gaveta.
Repeti o processo com um receptáculo fechado
por uma folha de alumínio, em que coloquei uma chapa fotográfica, e, do lado de
fora, uma lamela do sal de urânio. O conjunto foi fechado em uma caixa de
papelão opaco e depois em uma gaveta. Após cinco horas, revelei as placas e as
silhuetas das lâminas cristalinas apareceram em negro, como nas experiências
precedentes, como se tivessem se tornado fosforescentes pela luz. Em relação à
lamela colocada diretamente sobre a gelatina, praticamente não havia diferença
entre os efeitos nos pontos de contato e das partes da lamela que estavam
separadas da gelatina por cerca de um milímetro; a diferença pode ser atribuída
às diferentes distâncias das fontes das radiações ativas. A ação da lamela
colocada sobre o vidro estava um pouco enfraquecida, mas a forma da lamela foi
muito bem reproduzida. Finalmente, através da folha de alumínio, a ação foi
consideravelmente enfraquecida, mas apesar disso, era muito nítida.
É importante notar que este fenômeno não
parece dever ser atribuído a radiações luminosas emitidas por fosforescência,
já que após 1/100 de segundo estas radiações se tornam tão fracas que são quase
imperceptíveis.
Uma hipótese que surge muito naturalmente ao
espírito seria a suposição de que essas radiações, cujos efeitos possuem uma
forte analogia com os efeitos produzidos pelas radiações estudadas por Lenard e
Roentgen, poderiam ser radiações invisíveis emitidas por fosforescência, cuja
duração de persistência fosse infinitamente maior do que a das radiações
luminosas emitidas por essas substâncias. No entanto, as experiências
presentes, sem serem contrárias a essa hipótese, não permitem formulá-la. As
experiências que estou desenvolvendo agora poderão, espero, contribuir com
algum esclarecimento sobre esse novo tipo de fenômeno".
Note-se que não há quase nada de novo nesse
"novo tipo de fenômeno". A única novidade é que a fosforescência
invisível parecia durar muito mais do que a fosforescência visível (o que não
era, de modo algum, contrário ao que se conhecia).
Em outro artigo de revisão sobre os raios X,
publicado nesse mesmo mês, Raveau descreve os estudos de Charles Henry,
Niewenglowski, Piltchikof, d’Arsonval e Becquerel como sendo, todos eles, casos
especiais do fenômeno previsto por Poincaré e descoberto por Charles Henry.
Na semana seguinte (09/03/1896), em meio à quota
usual de artigos sobre raios X, Battelli e Gambasso estudam o papel de
substâncias fluorescentes no aumento do efeito dos raios de Roentgen. Troost
estuda o sulfeto de zinco fosforescente (blenda) e repete e confirma as
observações de Charles Henry, obtendo fortes imagens radiográficas ao excitar a
fosforescência por meio da luz do magnésio. Troost cita também os trabalhos de
Niewenglowski e Becquerel. Por sua vez, Henri Becquerel apresenta uma terceira
comunicação. Nela, afirma que a radiação emitida pelo sal de urânio estudado é
capaz de descarregar um eletroscópio (como os raios X). Era natural tentar
repetir com essa radiação todos os tipos de experimentos já realizados com a
radiação de Roentgen, para testar se eram iguais ou não. No entanto, a
principal analogia que parecia atuar na mente de Becquerel era outra: o
fenômeno era muito semelhante à fosforescência invisível (que ele havia
estudado) na qual havia emissão de radiação infravermelha. Ora, a radiação
infravermelha é da mesma natureza da luz e, ao contrário do que havia sido
descrito no caso dos raios X, ela se reflete e refrata. Becquerel estuda a
radiação do sulfato de uranila e potássio e conclui que ela se reflete em
superfícies metálicas e se refrata no vidro comum. Sabe-se, atualmente, que
essa radiação não se reflete, nem se refrata no vidro.
No mesmo artigo, Becquerel descreve observações
nas quais os sais de urânio continuam a sensibilizar chapas fotográficas mesmo
quando o material fosforescente fica guardado na obscuridade durante 7 dias e
observa: "Talvez esse fato possa ser comparado à conservação
indefinida, em certos corpos, da energia que absorveram e que é emitida quando
são aquecidos, fato sobre o qual já chamei atenção em um trabalho [de
1891] sobre a fosforescência pelo calor". Nota-se que Becquerel
continua a se basear nos fenômenos que já conhece, não reconhecendo nada de
fundamentalmente novo naquilo que estuda.
No mesmo artigo, Becquerel estuda outros
materiais fosforescentes. Alguns deles são sais de urânio. Com todos eles são
observados os mesmos efeitos. Com o sulfeto de zinco, ao contrário do que Henry
e Troost haviam observado, Becquerel não nota nenhum efeito. No entanto,
Becquerel faz observações na obscuridade - e Henry e Troost haviam feito
experimentos enquanto o sulfeto de zinco era iluminado. Outros materiais
fosforescentes (sulfeto de estrôncio e de cálcio) são examinados. O primeiro
não proporciona nenhum efeito, no escuro. Uma amostra de sulfeto de cálcio que
produzia fosforescência alaranjada também não produz efeitos, mas dois sulfetos
de cálcio com luminescências azul e azul-esverdeado "produziam efeitos
muito fortes, os mais intensos que já obtive nessas experiências. O fato
relativo ao sulfeto de cálcio azul está de acordo com a observação do Sr.
Niewenglowski através do papel negro."
Por nossos conhecimentos atuais, é muito difícil
compreender como podem ter ocorrido os efeitos descritos por Becquerel. As
radiações emitidas pelos sais de urânio, na verdade, não se refletem nem se
refratam; e o sulfeto de cálcio não deveria emitir radiações semelhantes às dos
sais de urânio (e, pior ainda, mais fortes!). Ou existiram efeitos que não
podem ser explicados por nossos conhecimentos, ou Becquerel se enganou em suas
observações - e, neste caso, pode ter sido induzido por suas expectativas
teóricas a ver fenômenos inexistentes. A menos que essas experiências sejam
repetidas, com os mesmos materiais por ele utilizados, não será possível, no
entanto, excluir a existência de fenômenos físicos atualmente ignorados e
diferentes da radioatividade.
Passam-se duas semanas e Becquerel publica novo
trabalho (23/03/1896). Nele, descreve observações de que alguns compostos de
urânio que não são luminescentes também produzem os efeitos antes descritos.
Assim sendo, essa fosforescência invisível parece não ter ligação com a
fosforescência ou fluorescência visível. Mas parece, segundo Becquerel,
tratar-se realmente de um caso de fosforescência, pois ele afirma que a radiação
aumenta quando os cristais que estavam no escuro são expostos à luz solar ou
quando são iluminados por uma descarga elétrica - novamente, o fenômeno
descrito não deveria ocorrer, pelo que sabemos. Há outra observação curiosa,
neste artigo. Becquerel afirma que as amostras de sulfeto de cálcio, que haviam
produzido efeitos no escuro, agora não impressionavam mais as chapas
fotográficas.
Como já se viu, Becquerel acreditava que a radiação que estudava era semelhante à luz, pois se refletia e refratava, ao contrário dos raios X. No seu artigo seguinte, descreve experiências com finas lâminas de turmalina e afirma haver notado efeitos de polarização de sua radiação (outro resultado estranho!). Continua também a afirmar que o efeito se torna mais forte quando o material é excitado pela luz (e repete isso também no trabalho seguinte).
Como já se viu, Becquerel acreditava que a radiação que estudava era semelhante à luz, pois se refletia e refratava, ao contrário dos raios X. No seu artigo seguinte, descreve experiências com finas lâminas de turmalina e afirma haver notado efeitos de polarização de sua radiação (outro resultado estranho!). Continua também a afirmar que o efeito se torna mais forte quando o material é excitado pela luz (e repete isso também no trabalho seguinte).
Passam-se agora 7 semanas. Só então Becquerel
apresenta nova comunicação. Depois de ter observado que todos os compostos de
urânio (luminescentes ou não) emitiam essas mesmas radiações invisíveis,
Becquerel resolve testar o urânio metálico. Obtém uma amostra preparada por
Moissan (químico que nesse mesmo ano havia isolado o metal) e verifica que ele
também emite a radiação. Ora, isso poderia ter mostrado que não se tratava de
um fenômeno de fosforescência e sim algo de outra natureza. Mas Becquerel
conclui que esse é o primeiro caso de um metal que apresenta uma fosforescência
invisível. Seria natural, a partir daí, pesquisar a existência de outros
elementos que emitissem radiações semelhantes, mas Becquerel não o faz. Após
esse trabalho, de 18 de maio, ele parece se desinteressar e abandona esse
estudo.
Os dois primeiros anos
Como se pode perceber pela descrição feita até
aqui, os trabalhos de Becquerel não estabeleceram nem a natureza das radiações
emitidas pelo urânio nem a natureza subatômica do processo. Seu trabalho,
originado, como o de Charles Henry e outros, pela hipótese de Poincaré, era
apenas um dos muitos, da época, que apresentavam resultados de difícil
interpretação. Visto no contexto da época, eram pesquisas que não tiveram o
impacto nem a fecundidade da descoberta dos raios X.
Poucos pesquisadores se dedicaram ao estudo dos
"raios de Becquerel" ou "raios do urânio" até início de
1898. Por um lado, os próprios compostos luminescentes do urânio (ou o urânio
metálico) eram de difícil obtenção. Por outro lado, Becquerel parecia ter
esgotado o assunto. Além disso, muitos outros fenômenos anunciados na mesma
época desviavam a atenção e apontavam igualmente para aspectos delicados desse
tipo de estudos.
No Japão, em 1896, Muraoka investigou se certos
vermes luminescentes eram capazes de emitir radiações invisíveis penetrantes,
capazes de sensibilizar placas fotográficas. Parecia que sim, mas os resultados
eram estranhos: o efeito só surgia quando os vermes eram mantidos úmidos e
quando havia um cartão entre eles e a placa fotográfica. Concluiu-se, depois,
que o efeito era devido apenas à umidade (pois papel umedecido produzia o mesmo
resultado). No mesmo ano, observou-se que algumas placas metálicas recentemente
polidas (de zinco, magnésio e cádmio) também sensibilizavam chapas
fotográficas. Um pesquisador norte-americano, McKissic, divulgou no mesmo ano
que muitas outras substâncias pareciam emitir raios de Becquerel: cloreto de
lítio, sulfeto de bário, sulfato de cálcio, cloreto de quinina, açúcar, giz,
glicose e acetato de urânio. Várias outras alegações semelhantes surgiram no
mesmo período - quase todas sem fundamento. Tudo isso ajudava a confundir a
situação.
Em um artigo de revisão do assunto publicado em
1898, Stewart descreveu todos os tipos de trabalhos publicados na época. Chegou
à conclusão (provavelmente a mais aceita, na época) de que os raios de
Becquerel eram ondas eletromagnéticas transversais (como a luz) de pequeno
comprimento de onda e que o processo de emissão era um tipo de fosforescência.
Repete os resultados de Becquerel relativos à reflexão, refração e polarização
dos raios de urânio e o aumento de intensidade da radiação após exposição à
luz. Adota, essencialmente, a mesma concepção que Becquerel. É verdade que, em
1897, Gustave le Bon havia repetido os experimentos de Becquerel e não havia
notado nenhum sinal de reflexão, refração ou polarização, mas ninguém lhe deu
atenção. Todos imaginaram que se tratava de um tipo de radiação ultravioleta.
Pode-se dizer que, de maio de 1896 ao início de
1898, esse campo de estudos ficou estagnado. O único resultado novo, durante
esse tempo, foi o de que a radiação do urânio permanecia forte ao longo de
meses, apesar de não haver recebido luz. Embora Becquerel ainda afirmasse que a
excitação pela luz aumentava a radiação emitida, Elster e Geitel não
encontraram esse efeito (que, é claro, não existe).
A descoberta de novos materiais radioativos
No início de 1898, dois pesquisadores,
independentemente, tiveram a idéia de tentar localizar outros materiais,
diferentes do urânio, que emitissem radiações do mesmo tipo. A busca foi feita,
na Alemanha, por G.C. Schmidt e, na França, pela Madame Curie. Em abril de
1898, ambos publicaram a descoberta de que o tório emitia radiações, como o
urânio. O método de estudo não foi fotográfico e sim com o uso de uma câmara de
ionização, observando-se a corrente elétrica produzida, no ar, entre duas
placas eletrizadas, quando se colocava um material que emitia radiações entre
as placas. Esse método de estudos era mais seguro do que o uso de chapas
fotográficas, já que estas, como vimos, podem ser afetadas por muitos tipos de
influências diferentes.

A radiação emitida pelo tório era observada em
todos os seus compostos examinados, como ocorria com o urânio. Ela produzia
efeitos fotográficos e era um pouco mais penetrante do que a do urânio. Schmidt
afirmou ter observado a refração dos raios do tório (como Becquerel fizera
anteriormente), mas não conseguiu notar nem reflexão nem polarização dos raios.
Marie Curie estudou vários minerais, além de substâncias
químicas puras. Notou, como era de se esperar, que todos os minerais de urânio
e de tório emitiam radiações. Mas observou um fato estranho:
"Todos os minerais que se mostraram
ativos contêm os elementos ativos. Dois minerais de urânio - a pechblenda [óxido
de urânio] e a calcolita [fosfato de cobre e uranila] são muito
mais ativos do que o próprio urânio. Esse fato é muito notável e leva a crer
que esses minerais podem conter um elemento muito mais ativo do que o urânio.
Reproduzi a calcolita pelo processo de Debray com produtos puros; essa
calcolita artificial não é mais ativa do que outros sais de urânio" .
Nesse mesmo trabalho, Marie Curie chama a atenção
para o fato de que o urânio e o tório são os elementos de maior peso atômico
(dos que eram conhecidos). Especula também sobre a causa do fenômeno. Diante da
enorme duração da radiação, parecia absurdo, na época, que toda a energia
emitida (que parecia infinita) pudesse provir do próprio material. Marie Curie
supõe que a fonte seria externa, ou seja, que todo o espaço estaria permeado
por uma radiação muito penetrante, imperceptível, que seria absorvida pelos
elementos mais pesados e reemitida sob uma forma observável.
A descoberta do efeito produzido pelo tório deu
novo impulso à pesquisa dos "raios de Becquerel". Agora, percebia-se
que esse não era um fenômeno isolado, que ocorria só no urânio. Marie Curie é
quem dá a esse fenômeno o nome "radioatividade":
"Os raios urânicos foram freqüentemente
chamados raios de Becquerel. Pode-se generalizar esse nome, aplicando-o não
apenas aos raios urânicos, mas também aos raios tóricos e a todas as radiações
semelhantes.
Chamarei de radioativas as substâncias que
emitem raios de Becquerel. O nome de hiperfosforescência que foi proposto para
o fenômeno, parece-me dar uma falsa idéia de sua natureza".
Vê-se que Marie Curie estava consciente de que se
tratava de um fenômeno muito mais geral.
Poucos meses depois da descoberta do efeito
produzido pelo tório, Marie e Pierre Curie apresentarão um trabalho de ainda
maior importância. No trabalho anterior, Marie Curie havia sugerido que a
pechblenda talvez contivesse outro material radioativo, desconhecido. Ela se
empenha no trabalho de tentar isolar essa substância. Para isso, dedica-se a um
trabalho de química analítica, separando progressivamente os constituintes da
pechblenda, testando-os pelo método elétrico, de modo a separar as frações
radioativas das inativas. Primeiramente, partindo da pechblenda que era duas
vezes e meia mais ativa do que o urânio, foi feita a dissolução do mineral em
ácido. Depois, borbulhou-se ácido sulfídrico (H2S) pelo líquido, havendo
formação de vários sulfetos insolúveis, que se precipitavam. O urânio e o tório
permaneciam dissolvidos. O precipitado era muito ativo. Adicionando-lhe sulfeto
de amônia, os sulfetos de arsênico e de antimônio (não ativos) se dissolvem. O
resíduo passa por outros processos de separação. Por fim, o material ativo fica
unido ao bismuto, não sendo separável dele pelos processos usuais. Não era,
portanto, nenhum elemento conhecido. Através de processos de sublimação
fracionada foi possível obter um material (ainda unido ao bismuto) que era 400
vezes mais ativo do que o urânio puro. O casal Curie sugere:
"Cremos portanto que a substância que
retiramos da pechblenda contém um metal ainda não identificado, vizinho ao
bismuto por suas propriedades analíticas. Se a existência desse novo metal for
confirmada, propomos dar-lhe o nome de polônio, nome do país de origem
de um de nós".
Não se pode dizer que estivesse, de fato,
estabelecida a existência de um novo elemento. O suposto novo metal se
comportava como o bismuto e não tinha raias espectrais que pudessem ser
notadas. Houve por isso certo ceticismo em relação a essa descoberta,
inicialmente.
Em artigo escrito após o trabalho relativo ao polônio, Marie Curie faz uma revisão dos conhecimentos sobre o assunto. Nele, coloca em dúvida a existência de reflexão, refração e polarização dos raios de Becquerel e nega, com base nos estudos de Elster e Geitel, a possibilidade de intensificar a radioatividade pela exposição ao Sol. Marie Curie defende claramente a idéia de que a radioatividade é uma propriedade atômica.
Em artigo escrito após o trabalho relativo ao polônio, Marie Curie faz uma revisão dos conhecimentos sobre o assunto. Nele, coloca em dúvida a existência de reflexão, refração e polarização dos raios de Becquerel e nega, com base nos estudos de Elster e Geitel, a possibilidade de intensificar a radioatividade pela exposição ao Sol. Marie Curie defende claramente a idéia de que a radioatividade é uma propriedade atômica.
Na última reunião de 1898 da Academia de
Ciências, os Curie e Bémont apresentavam um novo trabalho. Nele, apresentam
evidências de um novo elemento radioativo, quimicamente semelhante ao bário,
extraído também da pechblenda. Também nesse caso, não foi possível separar o
novo elemento do metal conhecido; mas foi possível obter um material 900 vezes
mais ativo do que o urânio. Além disso, desta vez a análise espectroscópica
permitiu notar uma raia espectral desconhecida. Os autores do artigo dão a esse
novo elemento o nome de "rádio", por parecer mais radioativo do que
qualquer outro elemento.
Etapas posteriores
Faltava muita coisa, ainda, a ser compreendida. O
que eram as radiações emitidas: iguais aos raios X, ou não? Até essa época,
parecia que sim. De onde saía a energia desprendida desses materiais? Por que
alguns elementos são radioativos e outros não? Nada disso havia sido
esclarecido. Não havia, também, suspeita de que a radioatividade acarretava
transformações de um elemento químico em outro. O nome
"radioatividade" existia, mas não se conhecia ainda o complexo
fenômeno ao qual damos hoje esse nome.
A história restante é longa e rica. Não é
possível descrevê-la em detalhes, aqui. O objetivo central deste capítulo era
mostrar que Becquerel ficou longe de estabelecer a existência da
radioatividade, tal como a concebemos hoje. Vamos, por isso, apenas indicar
alguns dos episódios posteriores, para dar uma idéia sobre o que faltava ainda
descobrir.
A natureza e diversidade das radiações emitidas
por materiais radioativos foram estabelecidas gradualmente. No início de 1899,
Rutherford notou a existência de dois tipos de radiação de urânio - uma mais
penetrante e outra facilmente absorvida. Chamou-as de a (a menos penetrante) e
b. No entanto, imaginou que ambas eram diferentes tipos de raios X. No final de
1899, Geisel observou que as radiações de polônio eram desviáveis por um ímã.
Esses raios não podiam, portanto, ser raios X. O casal Curie verificou que
alguns raios eram defletidos pelo ímã e outros não. Os que eram defletidos
correspondiam à radiação b de Rutherford. O sentido da deflexão mostrou que
eram semelhantes aos raios catódicos, ou seja, dotados de carga elétrica
negativa. Posteriormente, o casal Curie observou, por medidas elétricas, que
essa radiação transportava de fato uma carga negativa. A radiação não defletida
foi identificada como radiação a (que, na verdade, é pouco desviada, por sua
grande razão massa/carga).
Becquerel, nessa fase, fez alguns estudos sobre a
deflexão dessas radiações. Tentou defletir a radiação b por um campo elétrico,
mas não conseguiu, inicialmente. Isso foi conseguido em 1900, por E. Dorn. No
mesmo ano, Villard descobriu que os raios não desviáveis eram de dois tipos: os
raios a (pouco penetrantes) e outros raios muito penetrantes, que foram
denominados "raios g". Apenas em 1903, Rutherford observou que a
radiação a podia ser defletida elétrica e magneticamente, verificando então
tratar-se de partículas com carga positiva. Só então ficou mais clara a noção a
respeito da natureza dessas três radiações.
Outro aspecto da radioatividade - a transformação
dos elementos radioativos - emergiu também aos poucos. Em 1899, Rutherford
observou a existência de uma emanação radioativa do tório. Dorn verificou que o
rádio também produzia uma emanação semelhante. Depois de vários meses,
verificou-se tratar-se de um novo elemento químico, gasoso (radônio). Esse gás
estava sendo produzido pelo material radioativo. Além disso, os Curie haviam
notado, no final de 1899, que o rádio podia tornar radioativos os corpos
próximos. No ano seguinte, Rutherford descobriu que a radioatividade induzida
era devido a um depósito criado pela emanação gasosa. No entanto, esse depósito
não era idêntico à emanação.
Descobriu-se também que a emanação e o depósito
perdiam rapidamente suas radioatividades, o que mostrou tratar-se de uma mudança
atômica gradual. Após esses e outros estudos, Rutherford e Soddy apresentaram a
teoria das transformações radioativas em 5 artigos publicados de novembro de
1902 a maio de 1903. Com esses trabalhos, as linhas gerais da nova visão sobre
a radioatividade haviam já sido estabelecidas. Muitos aspectos foram
esclarecidos nos anos seguintes.
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